Um Reflexo na Escuridão, Philip K. Dick

Este livro foi uma cortesia da Editora Aleph

Até onde você é você? Se conhece por inteiro? Nunca se surpreendeu fazendo ou dizendo coisas que, em situações normais, não faria ou diria? Estudos neurológicos afirmam que todo ser humano tem mais de uma consciência em sua mente e, aquela que achamos ser a nossa única, é apenas a que conseguiu escravizar ou suprimir as demais. Sendo assim, poderia existir algum momento onde uma consciência escrava ou reprimida se faça presente? E se sim, até onde isso contrasta com aquilo que acreditamos ser? O que você faria se você fosse duas pessoas?

Todos esses questionamentos eu consegui extrair de um dos livros mais psicodélicos que já li na vida: Um Reflexo na Escuridão, de Philip K. Dick. O autor, um dos pilares da ficção científica, teve esse título lançado pela primeira vez com o nome de “O Homem Duplo”, e a Editora Aleph relançou em 2016 numa capa muito legal que está padronizada com a nova coleção de K. Dick.

Bob Arctor é um policial disfarçado. Ele usa um traje misturador, que é uma peça de vestimenta que pode simular todas as feições, roupas e nuances de fisionomia existentes, ou seja, Bob pode ser qualquer um a qualquer momento. Nem mesmo seus superiores saberiam dizer se um estranho qualquer seria Arctor ou não. Sua missão é encontrar o principal produtor e distribuidor de uma droga muito potente chamada “substância D”. O problema principal para Bob se inicia quando ele é colocado para investigar a si mesmo. Um dos disfarces que usa é de um viciado e esse viciado entra na lista de suspeitos a serem investigados pela polícia. Bob então coloca escutas em si, persegue a si mesmo... E nesse ambiente surge a paranoia da dupla personalidade: quem é real? Bob Arctor ou o Fred, o junkie?

Philip K. Dick, mais uma vez, promove ao leitor uma viagem muito (realmente não existe palavra mais adequada) louca! Alternando entre as duas possíveis personalidades do detetive, fica a cargo do leitor, durante um bom tempo, decidir quem ele é de verdade. A problemática policial nunca fica em segundo plano, e manter duas histórias tão intensas e volumosas em informação simultaneamente não é tarefa para qualquer autor. Além da dúvida sobre Arctor, há também a clássica indagação sobre o que é real e o que não é. A primeira frase do livro já é uma dúvida: o homem estava mesmo sendo comido vivo por piolhos ou era uma “bad trip” das drogas?

Um Reflexo na Escuridão é um livro atemporal e eu não tenho o menor receio de afirmar isso categoricamente. Uma prova é que foi escrito em 1973 e o assunto, assim como suas variações e consequências, são muito atuais. Outro fato muito interessante sobre esse título é que ele é considerado um tanto autobiográfico pelo autor. Dick utilizou de experiências com amigos perdidos para as drogas como inspiração para personagens e, alguns deles, até tiveram seu fim relatados no livro. Quais personagens ou fins? Isso fica para a individualidade dele, afinal já se declarou demais.

O livro teve uma adaptação para os cinemas em 2006. Dirigido por Richard Linklater, o filme tem no elenco Wynona Ryder, Robert Downey Jr. e Keanu Reeves. Eu, assim como a maioria dos fãs do autor, considero esse filme uma das poucas adaptações que fizeram jus à genialidade de K. Dick e tem uma aparência tão psicodélica como era de se esperar. Altamente recomendado após a leitura.

Esse título é um daqueles que você não vai ler em uma noite só. O livro não te prende, mas te sequestra da vida real, seja a sua monótona ou agitada, e te leva para explorar um mundo tão diferente que você duvida da possibilidade de existência e, ao mesmo tempo, teme pela possibilidade de que exista. Um sentimento tão ambíguo só pode vir de alguém que não é só um. Aliás, quem são você hoje?

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