A corista e outras histórias, Anton Tchekhov





Obra de um dos maiores contistas da história da literatura mundial, este pequeno apanhado de contos é a oportunidade perfeita para conhecer e se maravilhar com Tchekhov (1860-1904), o responsável pela composição de centenas de histórias e peças teatrais. Fazendo uso de personagens comuns, eventos cotidianos dos mais ordinários e situações simples, o autor consegue dar vida a pensamentos intrincados que são traduzidos de maneira a se tornarem palatáveis através das experiências de seus personagens.

Existem muitos contos reunidos de Tchekhov, edições completas, selecionadas e temáticas, mas essa edição em especial, produzida pela L&PM na Coleção 64 Páginas, é uma das melhores maneiras de começar a leitura de um dos contistas tradicionalmente considerado parte de uma lista que inclui Poe, Maupassant, Gogol e outros. A leitura de Tchekhov é fascinante, envolvente e de alguma maneira misteriosa, afinal, o autor consegue dar expressão a personagens quase insignificantes, a eventos quase irrelevantes e a vidas tão comuns que beiram a apatia.

O conto “A palerma” no qual lemos: “Pedi desculpas pela cruel lição e, para sua grande surpresa, entreguei-lhe todos os oitenta rublos. Ela disse um mercí tímido e saiu... Fiquei olhando quando ela se afastava e pensei: “Como é fácil ser poderoso neste mundo”.” Encontramos a relação de dominação e sujeição que ocorre entre patrão e empregada, entre universos distintos que sequer conseguem se compreender, não há transito entre o imaginário da empregada, a palerma e do patrão, o pagador. Também é possível observar no simples diálogo que ocorre entre eles, alguns instantes antes, esta trágica relação hierárquica.

“- Merci – sussurrou ela
Levantei-me de um salto e comecei a caminhar pelo gabinete. Estava indignado.
- Merci por quê? – perguntei.
- Pelo dinheiro...
- Mas eu a roubei, com os diabos, eu a assaltei! Acabei de roubá-la! Por que merci?
- Nos outros lugares eles não pagavam nada...
- Não pagavam? [...] Mas é possível ser assim tão pateta? Será que neste mundo é possível não ser atrevido? É possível ser tão palerma?”

Os outros contos seguem linhas parecidas, mas versam sobre outras questões da vida humana, como relacionamento amoroso, discrepância entre as vidas de um homem de letras e um homem do campo, a distância e violência simbólica criadas artificialmente por cargos e patentes, a diferença de perspectivas conseguida quando se distancia do objetivo com o qual já se estava acostumado, entre diversas outras formas de expressar a riqueza, a miséria e as relações humanas, iluminadas pela genialidade e maestria textual de Tchekhov.

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