A Letra Escarlate, Nathaniel Hawthorne



Em tempos conservadores, poucas vozes são ouvidas no meio de todo puritanismo e hipocrisia impregnada na sociedade. Na tentativa de passar a sua mensagem, escritores se arriscam a abordar temas polêmicos e mal vistos para poder abrir discussão na mente fechada da população. Em 1850, Nathaniel Hawthorne ousou retratar um tema condenado por um povo religioso e dominado pela igreja: o adultério. A história de uma mulher fadada a usar a “marca da vergonha” em seu peito pelo resto de sua vida, porém transforma a sua vergonha em orgulho e a sua marca escarlate reverbera até os dias de hoje.

Começamos o livro com uma multidão do século XVII abominando Hester Prynne, enquanto ela carrega um bebê em seu colo e uma letra “A” bordada em seu peito. Hester era casada com um homem que sumiu no mar há dois anos e, por falta de indícios de onde pode estar, é dado como morto. Contudo, ela acaba se relacionando com outro homem, que a engravida e, por causa de seu ato pecaminoso, é condenada a andar com a letra escarlate em seu peito , para alertar a todos que é uma pecadora.

Hester se mostra uma mulher indefesa no começo do livro. Mãe solteira de sua filha recém-nascida, ela se isola de todos que a julgam, assim como a sua pequena Pearl, que cresce longe das crianças e das pessoas que a veem como fruto de um ato abominado por Deus. Contudo, Hester muda a sua posição ao perceber que tudo que aconteceu contribuiu para que ela tivesse a sua maior felicidade: sua filha. Logo, o símbolo vermelho, a marca da vergonha, passa a se tornar algo da qual ela se orgulha, a letra que representa a pessoa que a motiva a seguir em frente.

A escrita de Nathaniel é incisiva e não se preocupa em atenuar a sua crítica afiada contra a hipocrisia tanto da igreja quanto da sociedade que a segue cegamente. Tratando sobre o adultério e apontar personagens, como membros do governo e da igreja, mostrando o seu lado negativo e contraditório, fazendo com que a provocação do autor possa ser visível em vários pontos da obra. Não por menos, a atitude de Hester perante a sua situação a tornou um dos maiores símbolos femininos da literatura. Sendo uma mulher lidando com algo calada e dando a volta por cima, mostrando quem ela realmente é e como consegue superar tudo o que passou, Prynne se mostra uma personagem feminina de personalidade forte.

Hoje, A Letra Escarlate é considerada um dos maiores clássicos da história da literatura. O seu tema polêmico e a visão de Nathaniel sobre essa época puritana permanece atual até os dias de hoje. Além de permear de referências na cultura pop (o filme A Mentira, 2010, usa A Letra Escarlate como pano de fundo para fazer uma “recontagem” da obra), é um livro que serve de analogia para diversos tipos de julgamentos, e não apenas o adultério. Uma obra que consegue dialogar muito além do assunto que nos é apresentado.

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