Sonhos de Einstein, Alan Lightman


E então você me pergunta: quem é Alan Lightman? Pois é, me perguntei a mesma coisa quando vi aquele livrinho na prateleira da livraria da rodoviária. Serei sincero. Eu ia viajar por umas duas horas e só estava procurando algo rápido para ler (e barato). Encontrei esse livro com um título legal, 103 páginas e por uma dúzia de dinheiros; não tive muitas dúvidas.

"Neste mundo, o tempo é uma dimensão visível."
Respondendo a pergunta sucintamente: Alan Lightman é físico e romancista, atualmente professor do MIT. Ser físico e romancista diz muito sobre a forma como escreve: temas científicos transformados em uma prosa bastante própria. O modo como ele explora as teorias do tempo, embora o Einstein em si não seja nem de longe um ponto relevante em Sonhos de Einstein, é um tanto quanto interessante.

"Neste mundo, existem dois tempos. Existe o tempo mecânico e o tempo corporal."

Vou deixar minha análise um pouco mais clara, a começar pela descrição da proposta do livro. Na ficção que se passa na Suíça, vez ou outra são descritas cenas de Einstein trabalhando em sua nova teoria do tempo. Nessas poucas cenas, organizadas em interlúdios, é comum vê-lo ao lado de seu amigo Besso, que reconhece a inteligência incomum do jovem, mas, ao mesmo tempo, se preocupa com a obsessão que Einstein tem em propor sua nova hipótese. Entretanto, esses interlúdios são raros e não são o centro das atenções. Esta está reservada a todos os demais capítulos: literalmente, os sonhos de Einstein.

"Suponhamos que o tempo seja um círculo fechado sobre si mesmo. O mundo se repete, de forma precisa, infinitamente."

Após cada data que nomeia os capítulos, entramos nos sonhos que o jovem cientista teve naquela noite. Falando assim, não parece nada demais. Mas os tais sonhos são narrados de uma forma muito distinta, e é aí que reside a beleza do livro. Alan realmente é bom na tal arte de colocar uma palavra depois da outra; sua prosa chega a ser, em alguns momentos mais do que outros, encantadora.

"Considere um mundo em que a relação de causa e efeito é irregular. Às vezes a primeira antece o segundo, às vezes o segundo antece a primeira."

Em cada sonho mora um mundo diferente. Um mundo em que o tempo funciona de uma forma própria. Muitos desses funcionamentos poéticos do tempo tem a ver com o conceito de tempo absoluto de Sir. Isaac Newton, com a teoria da relatividade (é claro) e até com a ideia da eternidade.

"Imagine um mundo em que as pessoas vivem apenas um dia."

Cada um desses mundos sonhados por Einstein é explorado com muita inteligência e delicadeza. O livro não é cheio de emoções; mal possui continuidade. Mas os textos são muito gostosos de serem lidos e te levam a reflexões interessantes, resultado de se imaginar mundos tão peculiares e tão cheios de outras possibilidades, que nada tem a ver com o mundo em que vivemos (ou pelo menos em como o tempo funciona nele... eu acho). Sonhos de Einstein é uma leitura rápida e diferente, talvez ótima para se passar o tempo pensando um pouco sobre o nosso tempo e em alternativos a ele - ou para deixar sua viagem de ônibus de duas horas muito mais aconchegante e proveitosa.

"Neste mundo, já num primeiro olhar percebe-se que algo está fora do lugar. Não se veem casas nos vales ou nas baixadas. Todos moram nas montanhas. Em algum momento do passado, cientistas descobriram que o tempo flui mais lentamente nos pontos mais distantes do centro da Terra."

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