O Planeta dos Macacos, Pierre Boulle


Obtendo fama mundial em 1968 através do início da sua franquia cinematográfica, O Planeta dos Macacos, escrito cinco anos antes, é um dos pioneiros de ficção científica e tem hoje seu reconhecimento literário consolidado. Desde pequeno, conhecia a franquia apenas através dos filmes e, ao acabar de ler, olho para os filmes com certo desdém porque a obra é, sem sombra de dúvida, muito maior do que os filmes jamais conseguirão expressar!

Jinn e Phyllis são um casal rico que está desfrutando suas férias vagando pelo espaço em sua nave particular. Eles avistam um objeto à deriva e se aproximam para recuperá-lo. Trata-se de uma garrafa com um manuscrito dentro. Abrem e lhes é contada a história de Ulysse Mérou, o primeiro humano a ir da Terra ao Planeta dos Macacos. Ulysse e o professor Antelle, acompanhados de um jovem pesquisador, desembarcam em um planeta, se guiando por um astro que observavam da Terra, chamado Betegeulse. Imediatamente têm contato com humanos no local, a saber, uma mulher jovem a quem Ulysse chama de Nova. Eles estão se banhando em um lago nas proximidades do local de pouso de sua nave, mas Nova não parece ser uma pessoa normal, como observada na Terra. Ela se retesa a sorrisos e uiva em sinal de diversão. Nova não fala. No entanto, a característica que mais instiga o pesquisador é o olhar vazio de Nova, que ele entende como ausência de alma. No mesmo dia, sons de tiros, provenientes da floresta que os cerca, os fazem tentar fugir e acabam capturados.

Você já leu o título e já viu gorilas batendo no Charlton Heston no cinema. Você sabe que são macacos, mas o impacto da revelação para o narrador é transmitido ao leitor inteiramente. Coletados como animais ou abatidos, os humanos são levados para laboratórios ou têm seus corpos sem vida exibidos em fotografias com gorilas de chapéus. A cena é tão impactante quanto cômica. Ulysse, com sorte, é encaminhado a um laboratório onde são feitos testes com humanos. Através de seus dotes intelectuais, ele tenta impressionar os chimpanzés cientistas ou seu superior, um orangotango, para sair da condição de cobaia. O teor científico da história prossegue através de diversos campos analisados pelo explorador, passando pelas artes, literatura e até arqueologia, que levanta a maior revelação do livro num clímax já instalado e o mantém até o fim da obra, onde parece não ter se extinguido. Lembra-se de Jinn e Phyllis? Pois é, todos esqueceram, mas eles também têm revelações a fazer.

Pierre Boulle cria e põe em prática a rotina de um planeta totalmente estranho, às vezes inimaginável, ao leitor, que o aceita sem ressalvas. Convencendo-nos de uma maneira muito fácil que o escrito ali pode ser verdade e, acima de tudo, oferecendo provas e comparações que fazem sentido, ao menos para mim, estudante de economia não entendedor de biologia. Muito além de uma simples história, O Planeta dos Macacos induz questionamentos profundos já nos primeiros capítulos. A cena montada de humanos mortos sem nenhum pudor e exibidos por macacos sorridentes nos faz pensar em valores como sociedade e laços afetivos, já que temos a mesma atitude, invertendo-se as classes. Não parando por aí, Boulle também introduz uma adaptada crítica às classes sociais na sociedade símia. No planeta iluminado por Betegeulse, orangotangos, chimpanzés e gorilas assumem diferentes posições na escala social e estão presos nessas categorias sem avaliação de suas habilidades ou dedicação.

O livro é curto, mas ainda assim possui uma história com muita fluidez, sem marasmo e bastante profundidade. Foi uma leitura tão agradável que me sinto mal em fechar o livro sabendo que não há mais desse universo a ser explorado. A edição relançada pela editora Aleph vem em formato de caderno, como um moleskine, ressaltando a ideia de que é um relato de um pesquisador. A arte é do Pedro Inoue, já conhecido pelos fãs da editora e, honestamente, não consigo imaginar arte melhor. A edição de relançamento ainda conta com extras que são como uma incrível sobremesa depois de uma farta refeição. Temos uma entrevista com o autor assim como uma analise sociológica da obra, movida por mais um assunto motivo de crítica social: o machismo, e, inevitavelmente, um pitaco científico.

Pierre Boulle entrou para a história da literatura mundial com um livro totalmente desprovido de colocação no tempo. Daqui há, sei lá, séculos, se um exemplar for achado e lido, provocará no leitor do futuro as mesmas sensações provocadas no de hoje: surpresa, indagação, reflexão e desenvolverá ainda mais o seu senso crítico. Talvez até, depois de ter virado a última página, o leitor do futuro aplauda. Talvez usando dois pares de mãos. Quem sabe...

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