O Teatro Mágico - Discografia: Parte 2



“O Teatro Mágico”, grupo de Osasco, SP, é um dos meus favoritos e não pôde ser resumido em apenas uma resenha. Confira a PARTE I primeiro, ou então siga por aqui e talvez você se interesse pela outra parte depois.

Vamos ao terceiro álbum de estúdio, A Sociedade do Espetáculo (2011), que também possui 19 faixas e quase a mesma duração total de O Segundo Ato. A variação na duração de cada faixa cai bastante, para no máximo pouco mais de 5 minutos. A inspiração para esse álbum saiu de um filósofo francês, Guy Debord, que fez uma crítica à teoria sobre o consumo e a sociedade ocidental capitalista. Muitas músicas do CD tratam desse assunto, com elementos baseados em Karl Marx, Fidel Castro e Nelson Mandela - e Chapolim Colorado, mas vocês não contavam com a astúcia deles.


“Esse Mundo Não Vale o Mundo” é uma crítica bem mais direta que o resto, mais explícita impossível, porém sempre compromissada com a verdade. “Amanhã... Será?” segue essa temática política e social principal, apesar de curta e simples. Já “Eu Não Sei Na Verdade Quem Eu Sou”, “Nosso Pequeno Castelo” e “Fiz uma Canção Pra Ela”, que também se destacaram muito neste álbum, são músicas mais sentimentais, voltando à base do Teatro Mágico. Por mais delicadas que as músicas tornem-se, o tom poético e cheio de ligações e trocadilhos não se perde.

Este CD deveria ser o fechamento da trilogia que era proposta pelo grupo a princípio, porém acabaram voltando atrás nessa questão. Já mostra uma bela diferença em relação aos anteriores, tanto na temática quanto nas melodias, além da ampliação das participações especiais. É como se o grupo estivesse se adaptando ao que veio a ser o quarto álbum de estúdio.

Amanhã... Será?

Grão do Corpo (2014) é o quarto álbum de estúdio do grupo. É a quebra da prometida trilogia e, a meu ver, é completamente diferente dos demais. O álbum é composto por 11 faixas, com a menor duração total de todas: menos de 45 minutos. Quase todas as faixas possuem duração de 3 a 5 minutos, com exceção de “O Corpo, a Culpa, o Espaço”. Todas as músicas deste álbum mostram um maior desenvolvimento de tudo o que o grupo sempre representou. Todos os aspectos do Teatro Mágico foram aprimorados em Grão do Corpo, apesar de alguns comentários sobre o seu aspecto comercial.

"Não se trata de um olhar para o individualismo contemporâneo, mas, pelo contrário, o entendimento e a consciência de que esse corpo individual - pequeno grão - compõe o corpo social, o universo e as particularidades da Terra."

Todas as músicas estão impregnadas com todo o cenário político-social que o mundo se encontra. “Mãos aos desolados” é uma ótima introdução para o resto do álbum, é calma e tranquila, como se fosse de fato uma preparação para o que vem pela frente. A obra como um todo é mais suave na parte instrumental do que os outros álbuns, porém nas críticas implícitas (e bem diretas) nas letras é bem mais trabalhado. Logo em seguida, vem “O Sol e a Peneira”, começando com essas críticas. Em seguida vem “Da Luta”, com um nome bem autoexplicativo, seguindo o mesmo padrão, porém com outra rítmica. “Quando a Fé Ruge” mantém o tom de crítica, com um ritmo mais misturado, e com um sentimentalismo e uma questão existencial extras. Um toque muito característico desse álbum é que todas as melodias têm repetições e sequências que realmente impregnam no cérebro. É muito difícil esquecê-las ou tirá-las da cabeça sem ouvir a música toda novamente.

“Somos todos bichos, nichos de mercado, datados, dotados de amor e querência; Por isso não esqueça: Onde sobra intolerância, falta inteligência!”

“Perdoando o Adeus” é uma das mais famosas, é calma e tem uma distribuição de instrumentos. De longe, a que mais grudou na minha cabeça. A frase “A vida anuncia que renuncia a morte dentro de nós” está em uma das camisetas do grupo. É mais existencial que as outras músicas do grupo, em geral. Seguindo o ritmo, vem “Partilha”, que também é existencial, mas puxa para o lado sentimental e romântico. “Outrora e Agora” retoma a calma profunda e as críticas políticas e sociais. Pra finalizar, temos “Todos Enquantos”, com um tom de finalização muito apropriado, bem calmo e tranquilo. Traz uma paz interior quase involuntária.

Seguindo uma linha do tempo, é notável que a harmonia e o balanço no instrumental das músicas melhoram significativamente. Nos primeiros álbuns, a quantidade de coisas acontecendo ao mesmo tempo é muito maior, e pra algumas pessoas isso pode incomodar um pouco. Eu adoro. A música muda um pouco a cada vez que você a ouve, de acordo com o que está no seu foco de atenção. O último álbum, porém, é muito mais uniforme e coerente, segue uma linha base muito clara, o que tem sua beleza também. É muito fácil ouvir o CD completo em uma única sequência, sem perceber.

Grão do Corpo

Além de tudo isso, ainda recomendo “Sobra Tanta Falta”, que não está em nenhum dos álbuns, mas é doce e cheia de poesia, e o DVD Fragmentos III (2007). Lançaram também o DVD Recombinando Atos (2013) que, como o próprio nome diz, é uma combinação das músicas que mais fizeram sucesso dos três primeiros álbuns.

Pelo fato de se declararem independentes, passaram por um pequeno episódio com Rick Bonadio, no qual o empresário, conhecido como Midas, criticou o movimento iniciado pelo grupo, chamado MPB – Músicas Para Baixar, a duras penas. Fernando Anitelli, como de costume, lidou com o ocorrido com maestria e delicadeza. O grupo claramente faz críticas políticas, contra a homofobia, o racismo, o machismo, a violência, a intolerância de qualquer espécie.

Tive a oportunidade de ir a um show (“Recombinando Atos”) em abril de 2014, na minha cidade, um dia antes do meu aniversário. Eles foram meu presente. Ao vivo, o grupo consegue ser ainda mais incrível, com apresentações circenses no meio da plateia ou do palco, a cada música. Já tive a oportunidade de ir a muitos shows, mas este foi totalmente diferente dos demais. Foi o único que consegui assistir perfeitamente, longe ou perto, mesmo com meu metro e meio de altura. Não fui empurrada, amassada, sufocada. As pessoas pediam licença e desculpavam-se por qualquer passo dentro do seu espaço pessoal. O público do Teatro Mágico é completamente diferente. Isso, pra mim, é só um reflexo das músicas e da natureza completamente diferente do grupo. Existe um respeito pelo próximo que não se vê em qualquer lugar. E, diga-se de passagem, Fernando Anitelli é um doce e é impossível não simpatizar com ele à primeira vista.

Alguns fãs chegam a adotar a maquiagem do grupo nos shows, que representa o personagem interno de cada um. Espero que artistas como os do Teatro Mágico e seus fãs contagiem o mundo, poesia por poesia, música por música, pessoa por pessoa. Se eu pudesse recomendar uma música, qual eu recomendaria? A discografia inteira!

“Sem horas e sem dores, que nesse momento que cada um se encontra aqui e agora, um possa se encontrar no outro, e o outro no um... Até porque, tem horas que a gente se pergunta por que é que não se junta tudo numa coisa só?”

0 comentários:

Postar um comentário

 

BLOG HORRORSHOW - CRIADO E DESENVOLVIDO POR ARTHUR LINS - TODOS OS DIREITOS RESERVADOS © 2015