A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen, Eugen Herrigel




Esse é um livro bem curto, daqueles que dá pra ler naquela horinha antes de dormir. Embora se confunda com uma história fictícia, tamanho o misticismo envolvido, na verdade conta a experiência do próprio autor com a arte de atirar com arco, durante os cinco anos em que foi discípulo de um mestre Zen japonês.

Eugen Herrigel é filósofo e sempre teve curiosidade de entender mais a respeito do Zen, um estilo de vida ligado ao budismo. Entretanto, mesmo lendo bastante a respeito, nunca encontrou respostas para algumas perguntas, nunca conseguiu entender o que eram afinal aqueles estados de espírito definidos nos livros. Simplesmente porque algumas coisas não podem ser descritas. Só alguém que atingisse aquele estado poderia ter um panorama real do que se tratava.

Quando foi convidado para dar aulas na Universidade de Tohoku, no Japão, viu a oportunidade de conhecer de verdade o Zen e mergulhou de cabeça nessa ideia. Quando procurou um mestre que pudesse ensiná-lo, não foi aceito: antes de mais nada, ele precisava se tornar mestre em alguma arte... Arranjo floral, pintura, esgrima... Preferiu o tiro com arco, mesmo sem entender por que aquilo era necessário.

O livro é um relato de sua experiência com seu mestre e de tudo que aprendeu sobre a arte Zen. É um livro sutil. Algumas cenas são bem gostosas de serem lidas, diria até que, de alguma forma, acolhedoras. Porém, o livro parece mais um compêndio daquilo que Eugen passou a entender sobre o tal estado de espírito a se atingir no Zen (recheado de termos comuns a essa arte) e suas dificuldades do que uma narrativa em si. Isso pode se tornar um pouco repetitivo, mas ainda assim não incômodo. A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen é uma experiência literária rápida e singular; vale a pena pelo tema que trata e pela delicadeza.

"'Temo', respondi-lhe, 'que já não compreendo nada. Até o mais simples me parece mais confuso. Sou eu quem estira o arco ou é o arco que me leva ao estado de máxima tensão? Sou eu quem acerta o alvo ou é o alvo que acerta em mim? O algo é espiritual, visto com os olhos do corpo ou é corporal, visto com os do espírito? São as duas coisas ao mesmo tempo ou nenhuma? Todas essas coisas, o arco, a flecha, o alvo e eu estamos enredados de tal maneira que não consigo separá-las. E até o desejo de fazê-lo desapareceu. Porque, quando seguro o arco e disparo, tudo fica tão claro, tão unívoco, tão ridicularmente simples...'
'Nesse exato momento', interrompeu-me o mestre, 'a corda do arco acaba de atravessá-lo por inteiro.'"

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