Duma Key, Stephen King




Quem diz que Stephen King é apenas o mestre do terror não o conhece direito. Não que o King não seja realmente um mestre na arte de assustar, mas é, também, um mestre na arte de criar enredos dramáticos fantásticos, personagens inesquecíveis e situação reflexivas. Suas histórias são muito mais que meros contos de terror. Quase sempre há algo mais. Já li muitos livros do Stephen, mas poucos me atingiram tão profundamente quanto Duma Key, um de seus trabalhos de sua “nova fase”. Descobri uma nova dimensão em seu universo criativo.

Duma Key é o nome de uma ilha no Golfo do México, onde, após perder o braço direito em um acidente, Edgar Freemantle vai morar numa casa alugada. A perda de seu membro o faz ter grandes mudanças físicas e mentais, e é na cabeça deste homem que entramos. A narrativa do King é sublime, como de costume, mas há uma magia a mais neste livro. Aos poucos, Edgar se revela um artista brilhante, cujas pinturas sempre despertam sentimentos nas pessoas, como também despertam outras coisas. Sim, isso mesmo, despertará uma antiga força maligna na ilha. Mas se é terror que você quer, sugiro que procure outro livro, pois a grande estrela aqui não são as aparições de seres monstruosos ou espíritos, mas sim o magnífico suspense que cresce ao ponto que adentramos cada vez mais na mente de Edgar.

Muito mais que um personagem, Edgar se tornou um amigo para mim. Durante as duas semanas em que li seu relato, acabei sentindo-me íntimo e, em alguns casos, como um amigo próximo. Como se não bastasse a vivacidade do relato de Edgar, também contamos com a presença de Wireman. Estes dois homens formam uma das mais belas amizades já criadas pelo King. Há cumplicidade e uma sensação de grande identificação. É simplesmente impossível não deixar-se cativar.

Temos amizade e também temos arte. Duma Key também já fora uma dia habitada por ninguém menos que Salvador Dali, e deixa-se transparecer que seu dom artístico tem forte ligação com a força que rege a ilha. Edgar, que já fora um desenhista em sua juventude, decide voltar a dedicar-se à arte. Daí, Duma Key vira uma grande obra de reflexão sobre a arte, o que é ser artista e sobre como a arte pode mudar o rumo da vida. King surpreende mais uma vez com suas inteligentes discussões passadas através de uma narrativa simples e acessível. Duma Key torna-se uma obra de arte que transcende a escrita e perpassa para o mundo da reflexão artística de modo quase intertextual. King não poupa suas palavras e enfervece a imaginação do leitor com suas belas descrições da ilha e das pinturas de Edgar.

Sem escapatória, Duma Key me segurou, me apaixonou e me mostrou um outro King ainda inédito para mim. Eu, que nunca vira grande profundidade reflexiva em suas obras, calei-me quando terminei a leitura deste livro. Duma Key junta-se às grandes obras do King por puro merecimento. Sua leitura torna-se obrigatória para todo aquele que deseja conhecer não só o King do terror, mas também um King que reflete sobre a vida, sobre a amizade, sobre perdas, sobre a arte e sobre como tudo isso pode mudar o rumo de nossos destinos.

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