Fanny Hill, de John Cleland




Também conhecida como: "Aventuras de miss Fanny Hill", "História de Fanny Hill" e "Memórias de Fanny Hill", é um romance escrito por John Cleland, em 1748 e lançado no ano seguinte. Cleland estava na prisão por dívidas contraídas em Londres, e produziu a obra neste período. O texto é considerado o primeiro romance erótico da modernidade, e tornou-se um sinônimo da batalha contra a censura da pornografia. Mais que isso, a obra reflete a sensibilidade de uma pessoa que se encanta com o próximo e que reflete de maneira doce a fluida natureza humana.

Ainda que seja considerado o primeiro romance erótico moderno, é também um dos grandes retratos da Europa do século XVIII. O livro é composto por cartas a um interlocutor não mencionado e narrado em primeira pessoa pela personagem: a doce, envolvente, simples e humana Fanny Hill. Um dos pontos marcantes na narração é a surpresa de momentos muitos sensuais, que refletem uma sensibilidade ao sexual que parece ser própria de um século, e que é ausente no nosso tempo ou embrutecida pela plasticidade e volatilidade de nossa época.

O livro de Cleland, de estilo e elegância raros, é um excelente referencial para contrapor a ideia contemporânea de erótico à do século XVIII. O romance tem uma estrutura muito simples, e as cenas mais marcantes talvez sejam aquelas do início da obra que apresentam a iniciação à vida sexual da jovem e inocente Fanny – nem tão inocente assim – que, órfã de pouca idade, muda-se para Londres na intenção de tentar a vida e acaba se tornando uma cortesã. O decorrer da narrativa é linear, e muito provavelmente tecido assim de forma proposital, afinal o que importa na obra não é a prosa envolvente, a narrativa erótica ou as cenas sexuais, mas o sentimento, a atenção, as paixões e os lampejos da natureza humana que aparecem descritos com tanta sutileza pelo autor.

Ao chegar à cidade, Fanny conhece uma mulher que ela acredita ser uma colocadora de empregas domésticas. O equívoco logo é corrigido e ela se descobre nas mãos de uma cafetina profissional que tinha por objetivo colocar a virgindade de Fanny à venda. A jovem porém, se apaixona por Charles, um rapaz que ela encontra na casa de prazeres. Depois de poucas palavras, fogem juntos e passam a ter um relacionamento feliz. Inesperadamente, ele é obrigado a deixar a cidade, por uma questão familiar e financeira. Fanny passa, então, de jovem doce e insegura à cortesã de muitos homens.

Nesse ponto do romance a narrativa se torna novamente interessante e inovadora para a época em que foi escrita. Fanny não mostra arrependimento pelas suas ações e escolhas, torna-se uma mulher de prazer e narra, com detalhes que nos criam imagens vívidas, suas aventuras amorosas. Os detalhes são explícitos e compõe várias páginas do texto, conferem à obra o título de pornográfica, erótica ou sexual. Segundo historiadores, as casas respeitáveis e que possuíam a obra no século XVIII tinham a lombada contra a parede para não despertar nos jovens o interesse pela narrativa obscena.

O livro, entretanto, precisou de um longo tempo para ser finalmente reconhecido pela crítica literária, era visto na época de sua publicação com maus olhos pelos seguimentos religiosos e entendido como um mero folhetim de pornografia romântica. A polêmica acompanhou a trajetória da obra, inclusive Cleland, os editores e os responsáveis pela imprensa do texto, chegaram a ser presos, acusados de obscenidade, e somente em juramento de renunciar solenemente ao livro foi que o escritor conseguiu liberdade. Assim, edições piratas se tornaram muito concorridas, o que só contribuiu para que a obra fosse mais vendida e divulgada. Nos Estados Unidos ficou na lista de textos banidos até 1966 e só recentemente foi-lhe atribuída a devida importância. O texto, de literatura filosófica ilustrada ou iluminista é revolucionário em vários aspectos, primeiro por apresentar uma mulher forte e movida por sentimentos elevados, mais ainda por romper com a ideia de culpabilidade emocional, e acima de tudo por apresentar um amor romântico livre, amor este que será transformado em algemas no romantismo literário. Hoje o autor é colocado lado a lado de renomados escritores ingleses, como Henry Fielding, escritor de “Tom Jones”, Henry Mackenzie e seu “The Man of Feeling”, e Laurence Sterne com “A sentimental jorney”.

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