Morte Súbita, de J. K. Rowling



Com enorme estardalhaço acerca de sua publicação, o primeiro romance adulto da famosa autora da saga "Harry Potter" prometia muita coisa, pois todos ansiavam o momento de saber o que Rowling reservara para sua nova fase editorial. Decepção pouca é fichinha para falar sobre a obra. Durante suas mais de 500 páginas, a trama se desenrola com lentidão, encaixando poucos momentos realmente tensos na narrativa.

Tudo começa quando Barry FairBrother, tido como um dos homens mais retos do vilarejo de Pagford, morre inesperadamente, e sua cadeira como líder do povoado fica a mercê de todos que almejavam sua vida sem erros e seu status social. A morte de Barry catalisa todo o choque da sociedade de Pagford, uma guerra se inicia e ficamos na expectativa de grandes emoções, mas não é o que recebemos.

Os personagens são bem construídos, há as tramas paralelas, a inversão de valores nos adolescentes que protagonizam a história, desvalorização da família, sexo, drogas, mas falta algo. Nunca desmerecerei o talento indiscutível de J.K., mas "Morte Súbita" não prende o leitor. São acontecimentos misturados entre inúmeros personagens. Aliás, são tantos personagens que a leitura fica mais lenta do que o necessário. Não somos bem acolhidos em Pagford e nem no subúrbio onde a rebelde Krystal vive com sua mãe viciada em heroína e seu irmão mais novo.

O velho dilema entre ricos e pobres, as duas margens da sociedade estão estampadas nos barracões mal construídos e em meio aos lotes abandonados, mas nem isso tira o marasmo da história. Bola e sua eterna valentia forçada e irreal é convincente, mas também exaustiva. Assim como seu amigo Andrew e sua sonsa paixonite por Gaia.

Não é cabível dizer que acostumei com "Harry Potter", pois o tanto que esperei este livro não está escrito, mas demorei dias a fio para concluir a leitura. Apenas o final surpreendeu-me, ele é magistralmente criado. Onde mais tocaria, em um velório, "Umbrella", da Rihanna? As despedidas e mortes no fim compensaram a tênue lentidão do livro.

As situações e personalidades de Pagford são bem cruas, lá ninguém é o que parece. Fofocas, trapaças, intrigas, brigas políticas, adultério, pessoas frívolas, fúteis e malvadas, a autora mostrou bem o contexto de uma cidade pequena.

Cenas onde o sexo é simples motivo de mostrar que a pessoa é dona de si me deixaram meio pensativo. A que ponto nossa geração está chegando? Será que ser aceito por outros é mais crucial do que aceitar a nós mesmos? O drama de uma personagem que se corta para aliviar as dores do dia a dia me comoveram bastante, pude entender sua incompreensão e o motivo de sua mutilação. Relações onde pais e filhos são mais que inimigos de sangue, realmente se odeiam, permeiam as páginas com uma vulgaridade contida em muitos lares em nossas ruas. Casos de abandono corporal e emocional levando a consequências desastrosas.

Só posso dizer que J. K. ousou muito em sua primeira jornada pós-Hogwarts, criando um ambiente com erros e acertos notórios. O livro foi amado por uns e odiado por outros. Eu fico no meio termo. É um bom livro, mas não a ponto de me fazer lê-lo outra vez.

"Escolher é algo perigoso: quando escolhemos, temos que abrir mão de todas as outras possibilidades."

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