A Revolução dos Bichos, George Orwell




Comprei A Revolução dos Bichos sem saber absolutamente nada a respeito. Tudo que eu sabia era se tratar de um clássico. Porque era ignorante? Não tinha me dado ao trabalho de pesquisar? Não, simplesmente porque eu queria descobrir por conta própria, sem influências.

A primeira coisa que pensei quando tive o volume em mãos foi "com certeza, é uma leitura rápida". Me deparei com uma fábula que ocupava apenas 103 páginas do livro, impressas com letras grandes e sem economia de espaço. Não demorei a descobrir que eu realmente estava atrasado, A Revolução dos Bichos tinha sido publicada em 1945, e desde então vinha causando alvoroço e discussões políticas ─ sua importância histórica vem enaltecida na contracapa, na orelha e num posfácio de autoria de Christopher Hitchens.
"Quatro patas bom, duas patas ruim."

A fábula (onde a narrativa economiza nos detalhes e animais falam feito humanos) em si, ignorados os paralelos políticos: os animais da Granja do Solar, assim como todos os outros, sofriam abusos de seu proprietário, no caso, o sr. Jones. Eis que Major, um respeitado porco da granja, convida todos dali a um encontro. Num palco improvisado, o porco usa de sua persuasão e discursa à frente de todos, convencendo-os de que os animais devem se rebelar contra os humanos e sua tirania; devem tomar o poder e viver numa sociedade igualitária e autossuficiente. Após a morte de Major, sob a trilha sonora de "Bichos da Inglaterra" ─ canção ensinada na mesma noite do discurso ─, os bichos tomam a Granja do Solar, expulsando sr. Jones e companhia. Mais tarde, o lugar seria renomeado Granja dos Bichos.

"Mais hoje, mais amanhã, o tirano vem ao chão
E nos campos da Inglaterra só os bichos pisarão ♪"

Todos os animais estavam dando conta do recado. Cada um da forma como podia cooperar, a granja foi mantida funcionando harmonicamente, sem os abusos dos humanos. Contudo, com o passar do tempo, os animais mais inteligentes começaram a ter privilégios ─ sobretudo, os porcos. Aos poucos, instituíram praticamente um regime ditatorial. Tudo isso ocorreu paulatinamente, ao longo de pequenos tropeços ideológicos e contradições, instaurando novos princípios que iam contra tudo o que tinham dito no início da revolução.

"Já naquela altura, depois de tanto abuso, era impossível distinguir homem do porco."

A fábula vem acompanhada de uma série de acontecimentos pelos quais os bichos passam. Aprendem a tocar a granja sozinhos, a ampliam, sofrem com o inverno e o racionamento de alimento, richas com granjas vizinhas, entre tantas outras ocorrências. O que quero dizer é que, embora a história seja mais focada no seu aspecto global de tomada do poder pelos porcos, diversos momentos pontuais são muito bem ilustrados, que tornam a narrativa bastante agradável. Me surpreende que uma história escrita na década de 1940 tenha uma linguagem tão acessível; Orwell soube conduzi-la de maneira deleitosa.

"Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais que os outros."

Mas a coisa fica séria mesmo quando levamos em conta tudo o que se "esconde" por trás de suas linhas. "Uma sátira feroz da ditadura stalinista", tudo o que acontece na granja é uma analogia brutal ao que a União Soviética tinha passado. Cada aspecto, cada cena, cada acontecimento, os personagens (justamente os porcos tomando o poder?), tudo na obra tem relação íntima com o nazifascismo soviético. Nenhum detalhe colocado por Eric Arthur Blair ─ sob o pseudônimo de George Orwell ─ está ali à toa. Satirizando as "fraquezas humanas que levam à corrosão dos ideais igualitários e sua transformação em tirania", A Revolução dos Bichos é uma obra de imensa importância sócio-política.

"O homem é a única criatura que consome sem produzir. [...] Mesmo assim, é o senhor de todos os animais."

Saldo final: a fábula em si merece seus troféus; é uma leitura fluída e tem uma proposta bem diferente. O enredo não possui momentos de êxtase, mas prende o leitor e, pela relevância histórica que tem, esse clássico que já é considerado leitura obrigatória realmente deve ter lugar reservado na sua estante. Pode não te estimular grandíssimas emoções, mas com certeza acrescentará muito à sua bagagem literária e cultural.

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