O Oceano no Fim do Caminho, de Neil Gaiman




O Oceano no Fim do Caminho é um livro que fazia tempos eu estava esperando uma oportunidade para ler e esperava MUITA coisa dele, pois todas as pessoas que o leram diziam ter chegado ao ponto das lágrimas rolarem. Não chorei, não gargalhei durante a leitura, não sorri. O que este livro me causou foi além disso, muito além. Foi uma verdadeira comoção, no sentido mais visceral da palavra.

A história do nosso protagonista sem nome (sim, seu nome não é mencionado em momento algum) é feita de lembranças atormentadoras de seu passado. Já em sua meia-idade, ele volta em sua cidade natal para um velório e acaba se dirigindo (sem querer?) até a fazenda da família Hempstock, governada por três poderosas "mulheres" de idades variadas, sendo Lettie a mais nova do clã. Nesta mesma fazenda há um caminho, e no fim um lago, que Lettie gentilmente chama de oceano. Quando se depara outra vez com este lago as memórias de nosso protagonista voltam completamente, memórias de uma infância quase esquecida, onde a escuridão tomou conta de sua vida.

Tudo começou quando sua família sofre uma crise financeira e passa a alugar seu quarto, indo parar lá um sul-africano que acaba cometendo suicídio após perder o dinheiro de amigos em jogatinas. A partir deste acontecimento um mal é despertado na cidade e com a ajuda de Lettie o garotinho tem que detê-lo. Mas não é fácil, pois a criatura do mal infiltra em sua casa como sua nova babá, conquistando o carinho de todos e deixando-o encurralado.

Há muitos elementos de fantasia no enredo de O Oceano no Fim do Caminho, desde citações à mitos até Nárnia e chegando realmente a existir criaturas. O livro é perturbador, narrado por um surpreendente personagem de sete anos, alternando frases extremamente cruas e marcantes. Os personagens são desenvolvidos com agilidade e colocados em situações onde são necessários, sem necessidade de nomes em alguns momentos.

A escuridão é um tema onipresente, enchendo as páginas e nos fazendo voltar ao tempo em que o medo de dormir com a porta fechada era maior do que a vontade dormir, época em que líamos escondido depois do horário de dormir. Uma outra característica interessante é quanto ao teor adulto implícito na história, mesmo só havendo uma leve cena em que o garotinho presencia uma cena de sexo. Há frases meio dúbias em alguns trechos, talvez sem malícia alguma para um menino de sete anos, mas altamente inflamáveis para leitores com vinte.

No fim, ficamos nos perguntando: "Cara, tudo isso foi real ou não?", mas tanto faz, para mim foi real. Eu senti várias vezes as sensações que o "sem nome" viveu: sentia um verme em meus pés, os pássaros voando em minha volta, as águas do Oceano emergindo todas as perdas do passado. Enfim, eu vivi este livro.

Meu único contato anterior com Gaiman foi com Coraline, que também me aterrorizou um pouco, e agora só penso em ler cada título deste homem que possui as palavras na alma. Então, faça como eu. Siga a trilha de terra, percorra o caminho e, por fim, mergulhe neste Oceano.

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