Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley




Um de meus livros favoritos. Também me lembra muito do livro 1984, de George Orwell, aquele do Big Brother, sabem? O nome do livro, Brave New World (Admirável Mundo Novo) é na verdade uma referência a um trecho escrito por Shakespeare, do Ato V de A Tempestade:
“O, wonder!
How many goodly ceatures are there here!
How beauteous mankind is!
O BRAVE NEW WORLD
That has such people in’t”
Resumidamente, o livro foi escrito em 1932 e é uma distopia que fala sobre um mundo futurístico, onde cada um tem duas opções de vida sem ser um Selvagem: morar em uma aldeia de índios, de modo primitivo, porém humano em alguns aspectos; ou viver a vida maluca da Utopia. A Utopia tem como lema “Comunidade, Identidade, Estabilidade”. O Rei/Deus (nunca consegui distinguir) dessa Utopia é Ford. O livro descreve desde o nascimento dos seres humanos da Utopia até aspectos diários e vida “pessoal” de alguns personagens. 

Antes do nascimento, todos os embriões eram tratados para que fossem separados posteriormente em castas. Alfas, Betas, Gamas, Deltas e Ipsilones. Todos em até 96 gêmeos idênticos. Para diferenciar os indivíduos nas castas, há controle do desenvolvimento, como privação de oxigênio. É aí que os problemas começam: os Alfas, a casta mais alta, são altos, magros, inteligentes (perfeitamente desenvolvidos) enquanto os Ipsilones, a casta mais baixa, são anões, negros, feios e burros. Eu realmente preciso falar sobre o teor racista e preconceituoso do livro? 

Em seguida falam muito sobre adaptação, ao clima e ao trabalho que o indivíduo realizará. Ele nasce pra amar o que fará, assim, não vai se preocupar com outras coisas. As crianças são condicionadas com choques para terem sempre uma reação boa ou ruim com algo. Absolutamente tudo é manipulado e preparado para que seja tudo perfeito. As castas eram diferenciadas pelas cores de roupas (ou uniformes, se vocês preferirem) que usavam, além da diferença física. O método de aprendizado é noturno e chama-se hipnopédia, que é basicamente uma repetição absurda de conceitos e ideias básicas e necessárias pra manutenção da Utopia. Aos que precisarem de uma dose extra de “felicidade” existe o soma, que reprime sentimentos e é comparável a certos antidepressivos e calmantes de hoje. Havia mesmo substâncias como Substituto de Gravidez para mulheres, e gomas de mascar de hormônios sexuais. São como os medicamentos de hoje em dia, para tudo há uma solução.

As pessoas participam desde pequenas de jogos “eróticos” (que não são descritos no livro, espertinhos, lembrem-se: 1932) e outros trechos que dão a entender um tanto de intolerância à homossexualidade (de novo, teor preconceituoso). Família, monogamia, romance, nada disso existe mais na Utopia, inclusive são puníveis - e é ai que a história do livro fica ainda melhor, mas não darei spoilers. O livro traz muitas referências ao universo real, como psicologia (Freud, que tenho minhas suspeitas de ser a inspiração para Ford), religião, história, poesia e música, tornando a temática futurística ainda mais verossímil. 

Um pequeno detalhe que me espanta é que o livro foi escrito em 1932, para ser um mundo 600 anos a frente e, mesmo com toda a tecnologia de reprodução, só existiam 2 bilhões de habitantes no planeta. Por volta de 80 de idade do livro, temos 7 bilhões de habitantes no planeta e fico feliz de ainda não vivermos nessa Utopia, embora muitos fatos futurísticos descritos no livro estejam presentes no mundo de hoje. 

O livro é um tanto racista, elitista e machista. Honestamente, não percebi isso da primeira vez que li este livro, isso foi apontado pra mim por um amigo muito querido. Creio que o autor fez isso como uma crítica, se olharmos o trabalho dele como um todo. Cada um de seus livros possui críticas à humanidade. Aldous Huxley admirava muito Freud e seu pai foi um dos fundadores do pensamento agnóstico. O machismo não é tão claro quanto o racismo, creio que por conta da liberdade sexual no universo do livro, porém, em todas as partes que incluem sexo, a decisão e escolha são sempre do homem. Outro pronto dele que eu considero interessante é o final. Não contarei qual é mas, por dedução, temos 3 opções: a Utopia é apenas apresentada e nenhuma alteração nela ocorre; os personagens reagem e a Utopia entra em crise/acaba; os personagens reagem e a Utopia permanece sem eles. 

Do prefácio, escrito pelo autor duas décadas depois:
“Nem parece tão remota a promiscuidade sexual do Admirável Mundo Novo. Já há certas cidades americanas nas quais o número de divórcios é igual ao número de casamentos. (...) Com a restrição da liberdade polícia e econômica, em compensação, tende a crescer a liberdade sexual. (...) Em conjunto com a liberdade de sonhar acordado sob a influência de drogas, o cinema e o rádio ajudarão a reconciliar os vassalos com a servidão que é seu destino. Tudo considerado, parece que a Utopia está muito mais próxima de nós do que alguém poderia imaginar há apenas quinze anos atrás. Naquela ocasião, projetei-a seiscentos anos no futuro. Hoje parece perfeitamente possível que o horror nos alcance dentro de apenas um século. Isto é, se não explodirmos em pedacinhos nesse meio-tempo.”

1 comentários:

  1. Inicialmente, em uma primeira leitura, ñ percebi os aspectos machistas e rascistas na Utopia. Entretanto, agora, fazendo uma segundo leitura, consegui vê-los ali, quietinhos, como mais um aspecto dessa sociedade.

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